Argumentação
“Argumentos e contra-agumentos, é assim que se faz a história. Ou bem você impõe suas ideias ou bem aceita as ideias que lhe são impostas. Queira ou não queira, o dilema é esse. Sempre existem forças em oposição e, assim, a menos que você goste muito de se subordinar, está sempre em guerra.”
(O Animal Agonizante; Philip Roth)
A argumentação é imprescindível na construção de qualquer texto dissertativo. Um texto desse gênero não se constitui como texto se não há nele defesa das opiniões e ideias expostas pelo autor. Argumentando, o aluno, ao escrever sua redação, aprende a questionar suas próprias opiniões, pois a partir do momento em que tem de justificar suas crenças, ele se depara com uma interessante questão: por que eu penso da maneira que eu penso? Por que eu acredito nas coisas em que acredito?
Lúcia Sá Rebello, em um ensaio chamado Texto e argumentação, faz alguns comentários interessantes, que devem ser de conhecimento de qualquer aluno que pretenda escrever um bom texto dissertativo:
Argumentação, do latim argumentatione, significa constratar, provar, representar, assumindo vários significados dependendo de como é empregada. [...] Falar não significa argumentar. Às vezes, podemos tecer comentários, contudo, não chegamos a pensar sobre eles, simplesmente expressamos tais pensamentos. Argumentar não é tarefa fácil. Exige que se estabeleça contato entre o que argumenta - desejando convencer - e o que está disposto a escutar ou ler. Assim, argumentação é essencialmente diálogo, discussão, controvérsia.
[...]
A competência argumentativa consiste em expor, com clareza, razões e argumentos para defender opiniões, concepções ou comportamentos; explica ou serve de elemento articulador na busca de alternativas diante de problemas. (Rebello, 2004, p. 121)
Assim, os argumentos são imprescindíveis, essencialmente, pois são uma forma de tentarmos chegar a conclusões interessantes, a pontos de vista com alguma base. Como diz Anthony Weston, no excelente livro A Arte de Argumentar:
Algumas conclusões podem ser defendidas com boas razões e outras com razões menos boas. No entanto, não sabemos na maioria das vezes quais são as melhores conclusões. Precisamos, por isso, apresentar argumentos para sustentar diferentes conclusões e, depois, avaliar tais argumentos para ver se são realmente bons. (Weston, 2005, p. 14)
Quando escreve um parágrafo argumentativo, o autor do texto deve se perguntar: O que estou tentando provar nesse parágrafo? Qual ideia quero transmitir ao meu leitor? Essa ideia, essa opinião do autor - que será transmitida ao leitor - deve ter uma justificativa, ou seja, algumas afirmações que vão defender o que o autor deseja dizer. Essas afirmações que defendem uma opinião são chamadas de premissas. É importante entender que deve haver uma relação lógica entre as premissas e a ideia que está sendo exposta.
Por exemplo, temos um parágrafo que começa com a seguinte asserção: O povo brasileiro julga que humildade é uma característica positiva e que a ambição é algo negativo.
Essa é uma opinião, essa é a ideia de nosso autor, mas ela somente será válida se outras asserções (as premissas) vierem ao encontro dela, com o intuito de justificar por que o leitor do texto deveria acreditar que tal proposição faz algum sentido.
Premissa I: Influência judaico-cristã, advinda da colonização portuguesa, que prega que a humildade como algo extremamente bom.
Premissa II: Podemos observar essa influência ainda hoje, pois as novelas, cuja ideologia está totalmente relacionada com o pensamento da maioria dos brasileiros, trazem a ideia de que o mocinho, humilde e inocente, tem um final feliz e o vilão, que geralmente é ambicioso e arrogante, morre, fica louco ou vai preso.
Isso é um argumento, pois foram oferecidas razões para que o leitor acredite que o brasileiro, de fato, julga a humildade como uma característica positiva, vendo na ambição algo negativo.
Agora, observemos o seguinte trecho, retirado de uma redação de um(a) aluno(a):
As palavras têm veneno, por isso tenha cuidado ao escutar. Muitas pessoas ao pronunciar uma palavra elas estão tentando nos envenenar com o pensamento delas, para nos convencer de que isto é a verdade. Logo devemos ter atenção no que escutamos, e ver se isso realmente é a verdade ou se estamos sendo envenenados pelo pensamento dos outros.
Esse parágrafo inicia afirmando que as palavras têm veneno, mas se perde, pois não há uma tentativa do autor de convercer/explicar ao leitor o porquê de sua afirmação ser válida. Ao dizer que “muitas pessoas estão tentando nos envenenar com o pensamento delas, para nos convencer [...]” o autor não está, de fato, defendendo a proposição inicial, é quase uma repetição da mesma ideia com outras palavras.
Argumentar é, em suma, dar ao leitor um conjunto de razões a favor de uma conclusão, de uma ideia, de uma opinião. Se um autor afirma, por exemplo, que a televisão apenas distrai e entretêm os telespectadores, ao invés de ensiná-los e de torná-los mais sábios, esse autor terá de trazer argumentos para explicar e/ou provar porque a sua opinião faz sentido, do contrário sua ideia não tem validade.
Nenhuma ideia pode ser considerada válida se depois dela não temos uma vírgula seguida de um porquê.